Herdamos dos pensadores iluministas a fé na bondade possível de todos e de cada um.
Mas esta conclusão não pode ser deduzida da obra do maior pensador iluminista do século XX.
O que se conclui da obra de Freud é que ser-se uma boa pessoa é uma questão de sorte.
Freud ensinou-nos que, para qualquer ser humano, a brandura ou a crueldade, o sentido de justiça ou a sua ausência, depende dos episódios da infância.
Todos sabemos que isto é verdade, mas vai contra muito daquilo em que dizemos acreditar.
Não podemos deixar de acreditar que ser bom é algo que está ao alcance de qualquer pessoa.
Se o fizéssemos, teríamos de admitir que, como a beleza e a inteligência, a bondade é uma dádiva da fortuna.
Teríamos de aceitar que, nos domínios das nossas vidas em que mais o prezamos, o livre-arbítrio é uma ilusão.
John Gray, "Sobre humanos e outros animais"
Tuesday, April 24, 2007
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